Papo de Salão
Minhas mãos doem. Vejo meus dedos ressecados acentuando todas as suas marcações. Mesmo tão jovem não consigo deixar de admirar minhas mãos e ver o tempo correndo entre elas. Como ao segurar as águas de uma fonte e vê-las escorrerem entre os meus dedos.
Mãos que todos os dias trançam. Trançam milhares de fios, centenas de tranças, e dezenas de pessoas todos os meses. Distorcendo a percepção do real. Minutos parecem segundos, semanas parecem dias, e o caminho que estava logo à frente se perdeu de vista.
Entrelaçando os encontros da vida e criando nós em suas pontas, que apenas cortando o vínculo se tornam livres para recomeçar.
Dessa vez me pego contando um papo de salão. Como o tempo está em abundância nesses momentos: Ou você implora para que a vida se mova tão rápido quanto os ponteiros do relógio ou apenas aprecia a única coisa que lhe pertence agora, suas mãos que se movem e criam. Uma matéria não eterna, que com um corte se desfaz e se transforma em lixo. Que um dia não será mais nada, mas que por um momento significou tudo que você tem agora.
Para muitos, palavras soltas como essas não comovem, mas para quem trança, sejam cabelos, relacionamentos, ou até mesmo destinos, ressignificam. Ressignificam situações a uma memória, como sentir as mãos brutas de uma mãe ao pentear seus cabelos. Sentir os pés presos no cimento, ouvir o teclar das letras, que formam palavras que de fato não significam nada, ao digitar incessáveis horas em um computador, somente encarando o relógio para que ele dê novamente cinco horas da tarde, e você possa recomeçar, ou pelo menos pensar que pode.
Ao deitar na cama, olhar o teto e levantar os braços verá que tudo que suas mãos criaram pode ter sido nada, significado nada, ou deixaram de existir, reduzindo a nada. Agora suas mãos são brutas e ásperas devido à falta de paciência pelo hábito de pedir para que o tempo fosse vento e a crença que os cabelos arrancados cresceriam rápido novamente. Por tudo que segurou e tocou, não as deixou livre, apertou-as para que nada escapasse e hoje elas estão inchadas e doloridas. Não olhe o relógio, uma hora o ponteiro irá parar, o sol irá se pôr e tudo começará de novo. Olhe suas mãos, o tempo está agindo sobre elas tão devagar, que te dá a oportunidade de apreciá-las.
Sua pele está tão seca e rachada quanto o cimento cobrindo os seus pés que quebrou para se libertar todos os dias. Até quando perseguiremos o agora sendo que ele está se entregando a nós?