O sussurro da alma é o berço da criatividade
Por que vendamos nossos olhos para a beleza do cotidiano e tapamos os ouvidos para o doce sussurro chamando para refletir sobre a vida?
Ao ouvir o melhor que o Brasil pode nos oferecer, trago à tona tantos pensamentos de um povo injustiçado. A cultura de uma nação pode se considerar confeccionada pelo povo? Então assim estamos matando nossos gênios?
Me recordo de ser desmotivada a cada episódio de destaque. Nunca adiantou ser bom em algo, com ou sem paixão, a maior habilidade que fertiliza a árvore da prosperidade é: a auto promoção. Gênios que marcaram nossa vida transformando a simplicidade em arte e emoção, são punidos pela dúvida. Dúvida de ser, de fato, merecedor do olimpo. Quando perdemos a capacidade de conversar com a alma?
O Brasil, belo desde onde a mais profunda raiz consegue tocar até onde o mais habilidoso pássaro consegue voar, mas entre a terra e os céus o caos perdura. Muitos temas podem ser abordados a partir disso, pra mim o que me gera maior revolta é a desvirtuação dos valores. A insegurança reina por todos nós, isso deve ser até certo sentido natural, a manifestação disso que me assusta.
Implico que estou em um processo de desescolarização, esse termo pode indignar, mas a escola criou um programa resistente em meu inconsciente. Em que tudo existe certo ou errado, que se pode medir conhecimento e capacidade por contagem de erros. Durante minha vida tive medo de errar e a busca por aprovação sempre foi externa. Coisas ou pessoas me validaram, assim como medir a riqueza de alguém pelo carro do ano. Me custou a entender que meu sonho não tem que ser: ter uma casa, um carro e viajar uma vez ao ano. Por longo tempo pensei ser uma jovem burra e preguiçosa, pois odiava estudar, não tinha ambição e a visão de uma vida bem sucedida padrão. Ao pontuar a si mesmo uma característica da sua “personalidade” você a manifesta. Após ter vivido experiências de “morte”, a depressão, percebi que eu não vivia errado, eu pensava errado.
Posso dizer que as afirmações diárias sobre o óbvio foram a corda jogada no poço, em que eu escalei até a superfície. Achava que estudar era algo cansativo, mas na realidade existem assuntos cansativos, e eu não preciso saber sobre eles. Um esboço pode te ensinar mais que o caderno decorado da garota das canetas coloridas na quinta série. Ser produtivo e criativo não é criar coisas engenhosas, é sobre ouvir as vozes da sua alma e trazê-las para essa realidade. Sentir tédio, tédio de verdade, aquele que te faz derreter na cama ou olhar a trilha de formigas no quintal, isso faz bem, essa é a vida. Foi esse sentimento que senti, enquanto fazia a tarefa mais entediante de minha vida, dobrar roupas. Esse momento me concedeu o prazer de poder apreciar cada palavra da música do Cartola, ele foi genial.
O cotidiano me fez escrever esse papo de boteco. Ao buscar saber mais sobre o artista Cartola, me deparo com diversas curiosidades interessantes sobre sua vida. Surpreendentemente marcante, ele morreu pobre, a representação do poder da auto promoção e a falta dela na vida de um artista. A famosa foto, que estampa minha ecobag comprada no calçadão de Copacabana. O cantor tomando um cafézinho, registra um momento cotidiano. Café, seu cheiro, seu gosto, ao meu ver, é a travessia para a vida adulta. Um caminho que liga conexões em minhas memórias.
A vida é leve assim como a folha que cai no chão e é levada pelo vento. Metáforas só podem ser compreendidas no momento em que você se sente vivo até nestes pequenos momentos. Momentos que não são compartilhados pelo que são e sim pelo que se transformam.